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Pix deverá fazer do Brasil 2º maior mercado de pagamento digital

Escrito por Bruno Cabral, bruno.cabral@svm.com.br 23:00 / 20 de Novembro de 2020.

Menos de uma semana após entrar em operação, o Pix – meio de pagamentos instantâneos desenvolvido pelo Banco Central – deverá fazer do Brasil o segundo maior mercado de meios de pagamento digital do mundo. Essa é a projeção de Marcos Gouvêa, conselheiro do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV) e do Instituto de Food Service do Brasil (IFB), que já considera a ferramenta como uma referência global de serviço de pagamento e transferência digital.

“O fato de a população brasileira ter essa forte integração com o novo assegura essa expansão, que colocará o Brasil, muito em breve, como o segundo maior mercado de pagamentos digitais, atrás apenas da China”, disse Gouvêa, durante evento realizado pelo Lide Ceará, na manhã de ontem (20), cujo tema era “A Revolução dos Meios de Pagamento e o Impacto na Economia Brasileira”. O Pix, que entrou na fase de funcionamento pleno na segunda-feira (16), permite a realização de pagamentos e transferências 24 horas por dia, sete dias por semana, todos os dias do ano, principalmente pelo celular.

Dentre os fatores que deverão contribuir para esse avanço, o conselheiro do IDV citou o tamanho do mercado nacional, a capilaridade do uso de smartphones – pelos quais serão efetuadas as transações do Pix – e a tendência de inovação do varejo. Com uma população de pouco mais de 212 milhões de habitantes, o Brasil tem mais de 230 milhões de linhas móveis ativas.

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“O empresário do varejo no Brasil é visionário, estóico, e com a pandemia, o varejo está se transformando em referência para os outros setores empresariais”, destacou Gouvêa.

“O Banco Central foi visionário ao identificar no mercado global essa tendência e perceber essa demanda, principalmente, por pessoas mais jovens, e acabou liderando esse movimento, com a plataforma Pix, que vai transformar a estrutura de pagamentos no Brasil”.

Durante o evento, Paulo Morais, diretor executivo da Totvs Ceará, destacou a liderança do Banco Central no desenvolvimento da ferramenta e que, “se não (tivesse), o Brasil estaria refém de empresas internacionais”, disse.

E-commerce
Ao falar sobre a evolução do comércio digital no País, Marcos Gouvêa destacou que, antes da pandemia, o e-commerce brasileiro representava cerca de 5,5% das vendas totais do varejo, e que hoje já é responsável por 10% das vendas totais, com tendência de continuidade desse crescimento. “Na China, temos algo em torno de 86% dos pagamentos feitos por meio digital”, disse. “Mas o consumidor brasileiro criou novos hábitos de compra, e setores como a indústria e de prestação de serviços estão indo diretamente ao consumidor”.

Para o empresário Sérgio Zimerman, CEO e fundador da Petz, maior rede de petshops do Brasil, o Pix deverá tomar impulso na medida em que as pessoas forem sentindo segurança em utilizar a ferramenta, tanto o consumidor como o varejista. “O Pix vai muito ao encontro com o que o varejo queria, de termos taxas mais justas em operações que não envolviam risco de crédito, como as transações com cartão de débito. Então, recebemos o Pix com muita esperança. Mas uma preocupação é que como os bancos vão gerenciar essas operações”.

Questionado sobre a segurança do Pix em relação a outras formas de pagamento, como TED, DOC ou cartão, o cearense Angelo Mont’Alverne Duarte, chefe do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central, disse que os riscos se dão principalmente pelo uso do smartphone e pelo aplicativo da instituição financeira do usuário.

“É tão seguro quanto as outras formas de pagamento já existentes”, disse. “Todas as transações do Pix são totalmente rastreáveis. E, como um elemento de segurança, você sabe de que conta saiu o dinheiro e para que conta foi”. Angelo Mont’Alverne disse ainda que, pela rastreabilidade das transações, a ferramenta poderá facilitar o combate à informalidade e à sonegação fiscal.

Primeira semana
Nos três primeiros dias de operação plena do Pix, o Banco Central registrou 5,2 milhões de transações, movimentando R$ 4,6 bilhões. A expectativa do mercado é que o sistema seja o grande substituto de DOCs e TEDs, por ser gratuito e estar disponível a qualquer hora. Mas também servirá para efetuar compras online e offline. Por ser instantâneo, as trocas devem ocorrer em até 10 segundos. De acordo com o Banco Central, o tempo médio das transações realizadas até o momento ficou próximo de 1 segundo.

Até agora, mais de 73 milhões de chaves Pix foram cadastradas. A chave de usuário é um identificador de contas: o cliente pode cadastrar um número de celular, e-mail, CPF, CNPJ ou um EVP (uma sequência de 32 dígitos a ser solicitado no banco). Por meio dela, é possível receber pagamentos e transferências. A chave é um “facilitador” para identificar o recebedor, mas não é indispensável para receber um PIX. O principal objetivo do sistema é aumentar a digitalização das transações financeiras no Brasil.

Maquininhas
Segundo o diretor de Organização do Sistema Financeiro do Banco Central, João Manoel Pinho de Mello, empresas de maquininhas de cartão poderão oferecer aos varejistas serviços ligados ao Pix, como a cobrança por meio de QR Code. “Hoje, o pagador não gasta nada para usar o cartão”, disse. “Mas a trilha, que tem a maquininha, que faz o dinheiro sair da conta e chegar ao varejista, este sistema é remunerado pelas taxas cobradas dos varejistas”.

Ele afirmou que várias empresas de maquininha vão passar a oferecer o Pix. Assim, o varejista poderá utilizar o QR Code na cobrança, por exemplo. “E esse serviço vai ser cobrado (do varejista)”, destacou. “A expectativa é que este serviço seja barato. Porque o Pix é barato”.

Segurança
O diretor ainda rebateu críticas de que sequestros relâmpagos não seriam facilitados pelo Pix. Segundo ele, não faz sentido acreditar que o sistema facilita crimes em função de suas características. “Esse tipo de crime (sequestro relâmpago) não é perpetrado por meio de transferências bancárias”, afirmou Mello. Ele lembrou que sequestradores geralmente forçam as vítimas a fazer saques em caixas eletrônicos, justamente porque o dinheiro vivo não é rastreável. “O Pix é”, disse.

Para que o sequestrador tivesse acesso aos recursos, ele precisaria ter uma conta em seu nome – o que tornaria a operação rastreável – ou utilizar a conta de terceiros, para saque posterior. Em todos os casos, o destino do dinheiro pode ser seguido.

 

Diário do Nordeste

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