Partido com desempenho surpreendente das eleições municipais deste ano, o DEM não precisou de um mês para expor fraturas internas, que podem fazer com que o capital acumulado no pleito, que deu a entender ser resultado também da união e da convergência entre seus caciques, se dissipe. O abalo nas relações vem sendo provocado pelas eleições para as presidências das duas Casas do Congresso, ao opor personagens como o senador Davi Alcolumbre (AP) e o deputado Rodrigo Maia (RJ), e outros correligionários de dentro e de fora do Parlamento.
O DEM emergiu, no dia 15 — data do primeiro turno do pleito municipal — e no dia 29 de novembro, com um aumento de mais de 70% em prefeituras conquistas, se comparado com o pleito de 2016 –– saltou de 268 para 459 eleitos. E pode aumentar esse patrimônio mais num pouco, hoje, caso vença o segundo turno da disputa pela Prefeitura de Macapá, cujas datas foram adiadas por causa do apagão no estado, mês passado (leia mais na página 4).
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Mas, o clima está azedo desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que Alcolumbre e Maia não podiam concorrer à reeleição aos postos que ocupam, hoje, no Congresso. O senador credita a derrota na Corte ao deputado, sobretudo porque trabalhava com a certeza da recondução. A partir daí, passou a atuar para tentar fazer seu sucessor, numa manobra que afeta as articulações que Maia tem de fazer também para colocar alguém do seu grupo no comando da Câmara.
Já Maia tenta manter os parlamentares em Brasília para continuar buscando a maioria para eleger seu candidato. E aumentou a ofensiva contra o governo de Jair Bolsonaro para enfraquecer a candidatura do líder do Centrão, Arthur Lira (PP-AL). Uma estratégia, aliás, que vai na contramão da de Alcolumbre, que acena ao Palácio do Planalto e trabalha para viabilizar o nome de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para sucedê-lo.
Desconforto
Porém, no confronto entre os dois cardeais, há um partido no meio. Integrantes do DEM avaliam que as estratégias de ambos enfraquecem a sigla e tiram o brilho do resultado obtido nas urnas em novembro. Na Câmara, Maia descartou a possibilidade de Elmar Nascimento (BA), seu colega de partido, entrar na disputa –– trabalha com Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) e Baleia Rossi (MDB-SP) para sucedê-lo –– e criou mal-estar na legenda. Em um grupo de mensagens entre correligionários, o parlamentar baiano disse ter sido “traído, inexplicavelmente”, por quem considerava seu melhor amigo e, “estranhamente”, relegado na escolha.
O resultado: após ter sido preterido, Elmar, que está internado com covid-19, tem dito a amigos que não apoiará o candidato de Maia e ainda ameaça levar votos da bancada do DEM para Arthur Lira.
Além disso, a estratégia do presidente da Câmara nas negociações com os partidos da esquerda foi criticada por uma das alas do DEM. Siglas como PT, PSB, PCdoB, Rede e PDT embarcaram no bloco de Maia depois que tiveram garantias de maior espaço na Mesa e nas comissões da Casa, caso o indicado do grupo vença a disputa.
“Não tem condições de aceitar esse jogo do Rodrigo Maia com a esquerda. Devo ir com o candidato mais alinhado com o governo”, admite Pedro Lupion (DEM-PR), vice-líder do governo no Congresso.
Além dele, o deputado Arthur Oliveira Maia (BA) é outro integrante do DEM que contesta as manobras de Maia. “Não é imaginável que Rodrigo vá tirar do bolso do paletó um candidato e enfiá-lo goela abaixo do partido. Ele corre o risco de formar um bloco, mas não ter o próprio partido dele para colocar no bloco”, salienta.
Base do governo
Outros integrantes da sigla avaliam que a possível derrota do presidente da Câmara à sua própria sucessão poderia levar o DEM a embarcar na base governista. Nesta semana, ACM Neto, presidente do partido e prefeito de Salvador, esteve reunido com Bolsonaro, em Brasília.
Na pauta do encontro, tanto a sucessão nas mesas do Congresso quanto o alinhamento do partido com o governo federal. Durante a conversa, ACM Neto tentou viabilizar o nome de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para a eleição no Senado, conforme propõe Alcolumbre. O fator impeditivo para o Palácio do Planalto é o alto custo de comprar uma briga com o MDB por desencorajar a candidatura de dois dos seus líderes: Fernando Bezerra (no Senado) e Eduardo Gomes (no Congresso).
Apesar de Maia pregar independência em relação ao Executivo, o DEM conta com dois ministros na Esplanada: Onyx Lorenzoni (Cidadania) –– que tem dito a interlocutores que, caso o presidente da Câmara não faça seu sucessor, o DEM deverá embarcar na base do governo –– e Teresa Cristina (Agricultura), que chegou a ser cogitada como um nome de consenso tanto pelo Centrão quanto por Maia.
A expectativa de Onyx é confirmada pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado. O grupo argumenta que a maioria dos deputados é alinhada ao Executivo, principalmente nas pautas econômicas, mas tem receio de se indispor com Maia.