Por Pedro Bentes
Fé e devoção levaram dezenas de pessoas à Procissão de São Pedro nesta sexta-feira (29), em Porto Velho. A tradicional festa religiosa em homenagem ao padroeiro dos pescadores acontece todos os anos desde 1954.
Publicidade
“Os pescadores deram início à tradição na década de 1950, quando ainda nem existia a Igreja de São Pedro em Porto Velho, construída em 1982. São duas equipes que participam da organização do evento. Uma fica responsável pela ornamentação na igreja do padroeiro e outra pela organização na procissão fluvial”, disse a devota Helena Cruz, que participa da procissão há 11 anos.
A procissão teve início no meio da tarde com a saída do cortejo fluvial. Partiu do Porto do Cai n’Água até a margem esquerda do Rio Madeira. Lá, a imagem do padroeiro aguardava os fiéis na Comunidade de São Sebastião.
Nessa edição, a Marinha em Porto Velho disponibilizou 10 militares que realizaram a segurança dos tripulantes durante a travessia do rio. De acordo com a Marinha, cerca de 80 fiéis participaram da procissão fluvial em duas embarcações da força armada.
Símbolos e fé
Os barcos são decorados com fitas azuis e brancas pelos próprios pescadores. As cores que representam a glória de Deus e o céu onde o apóstolo está depois de cumprir sua missão de pai e pastor da Igreja na Terra.
“A ornamentação dos barcos só pode ser feita pelos pescadores. É uma forma de agradecimento ao padroeiro pela proteção dada a eles. Nesses 11 anos de procissão acompanhei histórias de mães que ofereceram seus filhos doentes a São Pedro e foram curados”, relatou Helena Cruz.
Nos barcos decorados, histórias de ex-pescadores podem ser encontradas. São pessoas que acompanharam mudanças significativas no evento ao longo de décadas.
“Desde pequena, gostava de pescar na beira do rio. Fui pescadora há 30 anos e gosto de participar da procissão. É uma tradição de família que passa de geração em geração, mas percebo que vem mudando muito. Hoje não há nem mais um barco de pesca para levar a imagem do meu santo, como manda a tradição”, destacou a pescadora aposentada Fátima Esteves.
O ex-pescador, José Soares, de 83 anos, também aponta que a participação de fiéis durante a procissão fluvial de São Pedro vem diminuindo a cada ano. “A maior parte dos devotos que participam são velhos. Conforme eles vão embora, a procissão vê uma queda de participantes”, lamentou José.
Se a procissão fluvial sofre mudanças, certas tradições ainda persistem. Uma delas parte dos fiéis que costumam dar o nome do padroeiro a crianças, como forma de agradecimento ao santo pelas bençãos alcançadas.
Um desses casos é do jovem Pedro Victor, de 13 anos. Xará do padroeiro dos pescadores, ele faz questão de participar todos os anos da procissão.
“A gestação da minha filha foi muito complicada. O médico nos mandou decidir se salvaríamos a vida dela ou do meu neto. Como fui criada por um pescador, resolvi oferecer a vida dele a São Pedro. Caso minha filha e meu neto sobrevivessem, eu prometi que traria ele todos os anos para a procissão”, contou uma das fiéis.
Após deixar as águas do Madeira, os devotos seguiram por terra até a Igreja de São Pedro, no Bairro Panair, próximo ao Centro Político Administrativo de Rondônia.