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Entenda por que a eleição nos EUA pode virar uma guerra judicial

Três estados-chave estão sendo disputados de forma acirrada pelos candidatos à presidência dos Estados Unidos; Trump prevê vitória diante da Suprema Corte

(crédito: JIM WATSON, SAUL LOEB / AFP)

A apuração das urnas na eleição presidencial dos Estados Unidos continua a todo vapor em alguns estados-chave do país, mas o candidato à reeleição Donald Trump se adiantou e reivindicou vitória ainda na madrugada desta quarta-feira (4/11). “Francamente, nós vencemos esta eleição”, declarou aos simpatizantes na Casa Branca.

No breve discurso, o republicano anunciou que recorreria à Suprema Corte para pedir a suspensão da contagem dos votos enviados pelos correios. “Queremos que a votação pare”, afirmou, ao denunciar, sem provas, que a eleição estaria sendo fraudada.

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Estratégia

A campanha republicana, pretende, então, excluir esses votos enviados via correspondência da contagem final para que Biden não ultrapasse o mandatário na apuração de alguns estados-chaves mais vulneráveis, como Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, caso o resultado acabe apertado demais. Levantamentos apontam que os eleitores que votam no Partido Democrata tendem a utilizar mais a ferramenta do voto a distância do que os cidadãos republicanos.

Contudo, a estratégia de defesa de Trump não era surpresa. Na segunda-feira (2/11), o site norte-americano Axios já havia relevado que o dirigente planejada declarar vitória precocemente para, posteriormente, contestar as apurações na Justiça.

Desde agosto, com o aumento exponencial dos votos, especialistas apostavam no plano do atual presidente em tentar usar o voto a distância como argumento de possível fraude. Richard Lau, cientista político da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, acredita que o presidente está “terrificado” ante a possibilidade de derrota.

“Não ficou claro, para mim, qual partido terá mais danos, caso o voto postal seja desencorajado. Acho que uma motivação maior é o fato de que as ações do presidente, de desestimular o voto a distância, permitirão a ele legitimar o resultado das eleições, mesmo em caso de derrota”, analisou ao Correio.

Nada menos que 21 estados norte-americanos aceitam os votos enviados pelo correio que chegarem depois do dia da eleição, desde que tenham sido enviados até a terça-feira (3/11).

Wisconsin

Bill Stepien, diretor da campanha de Trump, durante a tarde desta quarta-feira, afirmou que pediu a imediata recontagem dos votos em Wisconsin.

Com 99% dos votos apurados até a última atualização desta reportagem, os números no estado mostram que Biden teve a preferência de 1.630.389 eleitores (49,4% do total), contra 1.609.879 de votos de Trump (48,8%). O resultado garante ao candidato democrata 10 votos no colégio eleitoral.

O argumento de Stepien baseia-se numa lei de Wisconsin, que dá ao perdedor do pleito o direito da recontagem quando o resultado tiver uma diferença menor que 1%.

Curiosamente, o mesmo cenário aconteceu nas eleições de 2016. Porém, naquela ocasião, Trump era o líder da apuração e classificou como “golpe” a tentativa da então candidata democrata Hillary Clinton de pedir a mesma apuração.

Michingan

Eis outro estado que é palco de forte disputa entre democratas e republicanos e que algumas projeções já indicam a vitória de Biden.

Com 98% das urnas apuradas, Biden lidera a disputa com 2.733.352 votos (50.1%) ante 2.629.597 votos (48,2%) de Donald Trump.

tepien também divulgou um comunicado a respeito desses resultados preliminares para que a contagem fosse interrompida. As alegações são de que a equipe de observadores de Trump não obteve autorização para acompanhar a abertura das cédulas.

“Não recebemos acesso significativo aos locais de apuração na abertura das cédulas e no processo de contagem, como garantido pela lei de Michigan. Nós entramos com uma ação para paralisar o processo. Também pedimos a revisão das cédulas já contabilizadas”, escreveram os organizadores da campanha num comunicado divulgado pelo Twitter.

Joe Biden diz que ‘americanos não serão silenciados’

O candidato Democrata defendeu a contagem de todos os votos e afirmou que os americanos não serão silenciados nas eleições de 2020.

“Quando a apuração tiver terminado, acreditamos que seremos os vencedores”, disse Biden, tendo sua companheira de chapa, Kamala Harris, ao seu lado. “Cada voto deve ser contado. Nós, o povo, não seremos silenciados”, disse Biden.

Recontagem dos votos

Todos os 50 estados norte-americanos preveem a recontagem dos votos. Em pelo menos 20 deles, há na legislação a determinação de que a recontagem seja feita automaticamente, caso a vitória de um candidato fique dentro de uma determinada margem.

Mais: em 43 estados, candidatos, partidos políticos e eleitores podem solicitar uma nova apuração. Nesses casos, os resultados da eleição são suspensos até a conclusão do processo.

Eleições de 2000

Os norte-americanos acordaram nesta quarta-feira sem saber o nome de seu próximo presidente, algo que não acontecia desde 2000. Na época, os cidadãos tiveram que esperar cinco semanas para que o republicano George W. Bush fosse nomeado presidente, em detrimento do democrata Al Gore, após uma batalha judicial que deixou o país em suspense e exigiu arbitragem sem precedentes da Suprema Corte.

‘Mina a confiança na democracia’

O chefe da missão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Georg Link, que supervisiona as eleições nos países ocidentais e nas nações que compunham a antiga União Soviética, criticou, nesta quarta-feira, as alegações do presidente e afirmou que o republicano mina a confiança na democracia.

“Alegações infundadas de deficiências sistemáticas, notadamente do presidente em exercício, inclusive na noite da eleição, prejudicam a confiança pública nas instituições democráticas”, disse Link, que liderou missão de observadores da OSCE.

De acordo com um relatório preliminar, a organização indicou que os comentários de Trump durante a campanha foram vistos por muitos como algo que poderia aumentar a “violência por motivação política” após as eleições. Além disso, o órgão alertou que nenhum político ou autoridade eleita deve limitar o direito de voto à população.

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